Sabem aquele típico filme de sábado à tarde, divertido, inofensivo, sem muitas pretensões, com personagens carismáticas, que nos garante entretenimento, emoção e boas gargalhadas? Talvez os mais novos não saibam do que falo porque os canais portugueses agora insistem na interminável pimbalhada, mas isto é tudo o que um filme desses deve ser.
Sandra Bullock e Channing Tatum. Aqui está uma dupla que nunca pensei que resultasse. Tal como não o esperava de The Rock e Emily Blunt em Jungle Cruise, por exemplo. Em ambos os casos, Hollywood mostrou-me, sem margem para “ses”, que que diretores de casting deveriam ser muito mais reconhecidos, mereciam categorias de Óscares só para si e merecem muito mais crédito do que aquele que lhes é dado.
A história de The Lost City fala-nos de uma escritora, Loretta Sage (Sandra Bullock), desagradada com muito do que escreve e que as pessoas adoram: romances exóticos com a aventura e exploração como pano de fundo. Os seus livros contam também com um modelo de capa, Alan (Channing Tatum), que se tornou ele próprio uma autêntica estrela, mostrando os seus abdominais sempre que tem oportunidade para tal. No final da apresentação do seu novo livro, Loretta é raptada por Abigail Fairfax (Daniel Radcliffe), um excêntrico bilionário, e irá que ter que contar com Alan – o homem que parece não ter muito para além dos atributos físicos – para a salvar de um plano maquiavélico.
Todo o argumento do filme acaba por se entrelaçar com as histórias escritas por Loretta e isso é feito de um modo inteligente e bem mais eficaz do que o esperado. A película tem um bom ritmo e, mesmo tendo a sua certa dose de previsibilidade, consegue elevar-se em determinados momentos. Isso acontece quando conhecemos Jack Trainer, num engraçadíssimo cameo protagonizado por Brad Pitt e como também nos despedimos dessa personagem. Isso acontece numa inesperadamente bem concebida cena entre os protagonistas principais na noite de uma pequena vila longínqua. Isso acontece no último ato que, mesmo sendo previsível, nos deixa tensos e surpresos com a beleza natural que nos apresenta à sua volta, provando-nos, mais uma vez, que a melhor forma de aplicar efeitos especiais é aliando-os a cenas gravadas no local (sim, rapazes, há um mundo para além do green screen e isto foi mesmo filmado numa ilha!).
Já aqui referi Brad Pitt e outra das personagens fortes é a agente de Loretta, Beth – interpretada por Da’Vine Joy Randolph – que acerta sempre no campo cómico, não nos deixando sempre agarrados aos atores e personagens principais. No entanto, estes são as estrelas e não desiludem. É evidente que ambos conseguem passar a química que se procura numa aventura do género e é evidente que Bullock e Tatum são hoje dois experientes atores que sabem o seu lugar e sabem como dar ao público aquilo que este quer ver, variando o range da sua atuação conforme é esperado do momento.
Ainda que esperasse um pouco mais de Daniel Radcliffe como vilão – é basicamente uma caricatura de um bilionário dos nossos tempos – e que considere o desenvolvimento da história bastante previsível, The Lost City é um filme que triunfa. Numa era de blockbusters standardizados obcecados com o CGI, este é um daqueles filmes de aventura que já não se fazem muito, mas que precisamos como nunca. Mais, por favor.