Uma macada de clichés em The Monkey King

The Monkey King é a nova animação produzida e distribuída pela Netflix, e se eu sinto que eles acertaram com a animação do ano passado, através de The Sea Beast, o mesmo não posso dizer deste filme. O filme conta a história do Rei Macaco que embarca em uma aventura épica. Entre lutas contra deuses, demónios e dragões, o maior desafio que terão que enfrentar é o próprio ego do macaco. O filme parece vazio a cada segundo, e quando digo vazio, não é em ação, pois o filme está repleto de ação sem parar um segundo. Quando digo vazio, falo em desenvolvimento geral, seja de personagens ou de como este mundo fantástico funciona, desprovido de qualquer originalidade, seguindo os clichés de uma maneira dececionante.

 

Tudo no filme é básico sem sair da fórmula de “filme de ser poderoso sem família e amigos, mas com uma parceira duvidosa”. Eu sinto que criei um genero cinematográfico. Ao ver o filme, sentes que já viste aquilo e isso em mim ficou bastante óbvio a partir do minuto 20, quando me lembrei de um filme muito famoso da Disney, o Hércules. Um ser superpoderoso luta contra demónios e deuses, na tentativa de chegar ao céu e se transformar num ser imortal. Entretanto, um deus vai querer atrapalhar o herói da pior maneira possível. Ao pouco procurar fugir da sua fórmula, o filme torna-se bastante previsível, sem a possibilidade de qualquer elemento surpresa. tentando-nos passar uma mensagem de querer ser mais e de fazer a diferença. Por vezes, esta mensagem é, sim, eficaz e resulta, mas na maioria não resulta, graças ao seu personagem principal.

The Monkey King é o personagem principal que guia a história e…que personagem mais irritante! O macaco é insuportável cada vez que abre a boca e as suas ações não ajudam. Quando tentas criar um personagem que se relaciona com o público, não podes criar um que irrite o público. Depois de meia hora de filme, tu só queres que uma pedra caia na cabeça do macaco, pois ele é insuportável. O que também não ajuda é o quão forte ele é, pois nada parece um desafio, o que deixa tudo tão aborrecido. Para ajudar, ainda tem um bastão mágico – que ninguém explica como funciona -, que é tão superpoderoso que se um está derrotado (macaco ou bastão), o outro resolve sem problemas. Outro problema é que não é só o macaco que é um mau personagem, os deuses também o são. Todos os deuses são vaidosos e excêntricos, o que não faz muito sentido, pois segundo o filme quem os criou foi o próprio Buda, Buda que é um ser iluminado que encontrou a realização espiritual, ou seja, não faz sentido ele criar estes deuses egoístas e egocêntricos. O filme parece que sofre o mesmo que Thor: Love and Thunder sofre. Se não tens nenhum deus que dê um contraste dos outros, todos parecem ridículos, o único que se pode dizer que dá um contraste é o próprio Buda, mas mesmo o Buda durante o filme toma algumas decisões questionáveis, o que faz com que nós duvidemos da sua capacidade como deus supremo e controlador de tudo. A maioria dos personagens é só entediante ou irritante, em exceto a personagem Lin, a assistente do Rei Macaco. Lin é uma personagem interessante, bem interpretada por Jolie Hoang-Rappaport, com um passado interessante que nos faz interessar e se relacionar com as suas ações, mas infelizmente eu sinto que ela na grande maioria é mal escrita e não foge muito longe do cliché.

The Monkey King apresenta o que considero o pior vilão das animações, se é que este filme tem um vilão. O filme quer-nos vender a ideia de que o Rei Dragão – dobrado por Bowen Yang – é o vilão do filme. Mas, na verdade, o Rei Dragão só está á procura de uma coisa que lhe roubaram, nunca se assumindo como uma ameaça. Só no 3.º ato é que – absolutamente vindo do nada – nos é dito pelo próprio que é um vilão, de uma forma musical que acaba por destoar do resto do filme. Ainda que o Rei Dragão mostre ser um personagem bastante poderosa, é pena que, com as facilitações do guião, derrotá-lo não seja um grande desafio para os personagens.

A animação do filme é um grande ponto positivo, especialmente nas cenas de ações. O traço de animação, bastante característico de Homem-Aranha: No Universo Aranha – os quais outros seguiram – as cores, tudo joga a favor de uma animação incrível, que até ajuda a criar uma sensação de velocidade durante as cenas de ação. A montagem também está a um bom nível, conduzindo-nos geograficamente durante as lutas. Como falei no parágrafo anterior, o mesmo não posso da componente musical, pois as músicas destoam do filme. A música do Rei Macaco é um 5 em 10, mas o problema é que eles repetem umas cinco vezes a música, o que a torna super enjoativa. 

The Monkey King é baseado numa coleção de filmes Live-Action que confesso nunca ter visto. No entanto, com esta animação, não me apetece ver na mesma. É um filme que segue o básico e, durante grande parte do tempo, safa-se nessa faceta. No entanto, os personagens irritantes e a componente musical tornam o filme entediante e alongado. Ao menos, os cenários e a representatividade cultural chinesa e religiosa estão bem representados. É um ponto forte, mas não salva.


The Monkey King
O Rei Macaco

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 1h37m

REALIZAÇÃO: Anthony Stacchi

ELENCO: Jimmy O. Yang,Bowen Yang,Jolie Hoang-Rappaport

+INFO: IMDb

The Monkey King

Previous ArticleNext Article

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *