Se The Mother vos parece pouco mais do que o genérico filme de ação da Netflix ou algo escrito por um modelo de IA tendo em conta uma audiência específica…não vou fazer muito para o negar. O que é feito nesta obra de Niki Caro (Whale Rider; North Country) é previsível, vai exatamente onde esperam que vá e não irão perder nada de muito importante se não o virem. No entanto, vou-vos tentar convencer porque é que isso não é inteiramente uma má notícia.
A maior razão é Jennifer Lopez. Ao contrário do que seria expectável aquando do início da sua carreira cinematográfica, Lopez é uma atriz muito capaz. E não, não a estou a colocar no patamar das maiores atrizes de Hollywood. No entanto, ela é carismática e competente o suficiente para carregar uma personagem e uma história destas às costas. Uma personagem que vai à luta, que ultrapassa dificuldades, que sofre muito, mas que, acima de tudo, vence. Neste filme Lopez é a mãe. A mãe de quem nunca sabemos sequer o nome, o que até faz sentido por ser uma assassina mercenária da qual todos pouco sabem. Sabemos, sim, que no rescaldo de uma operação que deu errado – por ter querido saber demais e ficando a saber o que não queria – esta se vê obrigada a lutar pela vida com uma outra vida na sua barriga à espera. Cedo ela percebe que a sua filha apenas estará protegida se nunca souber da sua existência, desejando para ela uma vida pacata no seio de uma familia funcional. Adivinharam. As coisas dão errado, quem quer fazer mal à assassina, descobre a sua filha, estes mercenários vão atrás dela e depois, claro, a mãe tem que vir salvar a filha.
Lopez não cai no choro fácil, nem no sofrimento miserável e muito menos vai pelas decisões mais fáceis. Isso é interessante de se ver e é de elogiar. Era fácil isto ter-se transformado num drama forçado sem ter em consideração que falamos de…uma assassina. E é aí onde ela se sente mesmo melhor, é isso que ela é. Palmas para Lopez! No entanto, os outros atores estão também a um bom nível – sem nada de particular realce -, principalmente Paul Raci – que funciona quase como um mentor para a mãe -, Omar Hardwick e Gael García Bernal. Joseph Fiennes também cumpre e a única peça que custa mesmo a engolir é a da filha, Zoe, interpretada por Lucy Paez. Um daqueles papéis de pré-adolescente super irritante, que sabe tudo e tudo odeia, levando-nos até a soltar um “bem feito” quando é mordida por um animal selvagem.
Outro ponto positivo da obra são os cenários apresentados. Diferentes – falo de um primeiro ato em Havana e um terceiro na neve -, com vida própria e capazes de elevar uma cinematografia que também tem bons momentos quando filma a ação, principalmente nas cenas de perseguição, seja a pé ou em veículos motorizados. Pouco mais há a destacar porque tudo o resto vocês já esperam. A história é o ABCD que já vimos, vezes sem conta, em filmes do género, sendo fácil perceber para onde caminha, com o diálogo a variar entre o básico e o efetivo. Na verdade, este ano até já vi uma história que procura tocar numa temática similar, fazendo-o de uma forma bem mais efetiva e imaginativa. Podem ler a minha crítica de Kill Boksoon aqui. No entanto, The Mother não é algo mau, não é algo que vos vai passar a odiar a vossa televisão ou até a vossa vida. É só algo básico.
É exatamente o filme que esperam não trazendo nada de inovador para cima da mesa. É uma proposta razoável para se passar um serão com expectativas pouco elevadas ou para colocar na tv enquanto vamos dobrando a roupa. O vosso nível de aceitação irá muito depender se Jennifer Lopez vos convence como atriz. Pessoalmente, considero-a mais competente do que o valor que lhe é usualmente atribuido e alguém com carisma para carregar uma personagem e história do género. E como lhe devem doer as costas de carregar este filme inteiro…