Não havia muita gente que soubesse da sua existência antes do seu lançamento, mas The Night Agent revelou-se inesperadamente num enorme sucesso para a Netflix. É fácil de explicar. É uma série viciante, onde os plot twists se sucedem a um ritmo vertiginoso com cada episódio a acabar num cliffhanger.
A história é simples e até batida: um agente do FBI, parte de uma equipa especial, recebe uma chamada de alguém que corre risco de vida e que presenciou o assassinato de dois dos seus familiares. Cedo se percebe que isto tem contornos de terrorismo, conspirações e ameaças à segurança nacional. Ora isto imediatamente também me remete para algumas das minhas séries favoritas, como 24 ou Homeland. Ter essas referências imediatamente na cabeça mão ajudam muito The Night Agent, pelo menos numa fase inicial. Tem a urgência dessas séries e alguma da intensidade, mas as suas personagens principais não possuem o carisma dos principais protagonistas dessas séries. Além disso, é fácil prevermos – principalmente para quem está habituado a séries do género – grande parte das supostas surpresas e para onde isto tudo nos irá levar.
É verdade que a série continuou a não surpreender e que vai mesmo quase sempre pelos caminhos esperados. No entanto, com o decorrer dos episódios a trama adensa e começamos a interessar-nos mais por aquelas personagens. As duas principais não ficam perto de Jack Bauer (24) ou Carrie Mathison (Homeland) nem os atores que as vivem (Gabriel Basso e Luciane Buchanan) têm um terço do carisma e das ferramentas de Kiefer Sutherland (24) ou Claire Danes (Homeland). No entanto, são competentes naquilo que têm para fazer. Não fazem nada que mereça prémios, mas ao menos não envergonham ninguém e permitem que as suas personalidades sejam expostas e que a elas nos vamos habituando. No que diz respeito a personagens secundárias, esta série varia entre personagens boas e outras do mais genérico que há. Hong Chau é excelente no papel da chefe de gabinete Diane Farr. Fola Evans-Akingbola e D.B. Woodside dão-nos alguns dos melhores momentos como Chelsea e Erik, elementos da segurança que protegem a filha do Vice-Presidente, Maddie (Sarah Desjardins) que também tem algum destaque. Agora…há demasiada unidimensionalidade seja no Vice-Presidente Redfield (Christopher Shyer), seja em Wick (Ben Cotton) ou na dupla vilã – onde ainda se tenta dar uma dimensão humana totalmente oca – composta por Ellen (Eve Harlow) e Dale (Phoenix Raei).
Sempre que nos deixa num cliffhanger, quando nos dá cenas explosivas de ação, quando explora algo dos corredores da Casa Branca ou nos procura dar mais daquela dinâmica entre Chelsea e Erik, a série resulta. No que diz respeito à ação, há algumas interessantes perseguições e há uma cena muito bem construída num terminal de contentores onde o espaço parece um enorme labirinto. Nada muito original, mas bem executado. E isso resume muito bem o que esta série é no geral. Faz exatamente aquilo que esperamos que ela faça, mas fá-lo de um modo que entretém e que nos deixa sempre a querer ver o episódio seguinte. Mesmo que aqui ou ali faça coisas totalmente desnecessárias – como a adição daquele forçado romance que parece ali estar apenas para tentar convencer um público mais jovem – nunca é aborrecida.
The Night Agent fez-me imediatamente lembrar 24. Nisso não sai por cima: apesar da hipersensibilidade da sociedade atual provavelmente considerar 24 uma série problemática, a pior das suas nove temporadas é superior a esta, especialmente na complexidade das suas personagens, relações e enredos, proporcionando níveis de ansiedade que aqui não são atingidos. No entanto, comparar com a excelência é também injusto. Isto é viciante, tenso o suficiente, com bastantes reviravoltas e com alto valor de entertenimento. É uma visualização fácil que pede sempre que o próximo episódio seja visto imediatamente.