The Nun II: Os clichés esperados, mas melhor do que o antecessor em tudo

The Nun é um mau filme. Não falo deste, calma. Falo do filme de 2018, com Taissa Farmiga no papel principal, um spin-off de The Conjuring. Os sustos fáceis – e mal construídos – sucedem-se a um ritmo vertiginoso, pouco background nos é dado das suas personagens e a história que nos conta é demasiado batida, sendo um filme, surpreendentemente, aborrecido. Para a sequela, uma equipa diferente foi chamada. 

Se é verdade que Michael Chaves na realização tem também a sua dose de filmes menos conseguidos, sempre pareceu que o mesmo tinha mãos para essa tarefa, ficando um pouco refém de pouco consistentes guiões. Ora, para esse papel jogou-se pelo seguro, com os nomes por detrás de The Autopsy of Jane Doe (Richard Naing e Ian Goldberg) e de recentes sucessos como Malignant ou M3gan (Akela Cooper). Tudo isso tem correspondência no que vemos no ecrã. 

Depois de uma boa cena de abertura, a história é contada de um modo mais pausado, mais pensado, dando-nos mais tempo para a absorver, mais tempo para o crescimento das personagens e mais tempo para a criação da atmosfera pretendida. O som é de destacar, seja a nível dos seus efeitos ou da tensa composição que ajuda a criar essa tal atmosfera. A cinematografia é mais cuidada, com uma impecável utilização de ambientes mais sombrios e um interessante trabalho de câmara, proporcionando uma boa interação entre as personagens e os cenários. Há também novas personagens, com o destaque a ser a Irmã Debra (Storm Reid), que apresenta um arco interessante, embora a Irmã Irene (Taissa Farmiga) continue a ser o centro das atenções, com um importante papel também a ser dado a um bem conhecido Maurice (Jonas Bloquet).

O filme não é, ainda assim, perfeito. Depois de uma cena absolutamente fascinante com revistas na parede – que o trailer, infelizmente, spoilou, embora não tenha retirado todo o impacto -, o filme parece descer um pouco de qualidade. Seguem-se cenas mais previsíveis, muito baseadas na típica “voz conhecida a chamar ao de longe com alguém indo lá espreitar” que tão comum é a filmes do género. Confesso que me desliguei um pouquinho por aqui, pois pareceu-me algo que já vi inúmeras vezes no género. No entanto, confesso que não sei sequer se não estarei a atribuir peso a mais ao que o filme faz, pois muita da minha frustração pode ter a ver com questões extra-filme e poderei não estar a ser tão imparcial quanto um crítico deve ser.

A praga dos smartphonedependentes já abrange todas as camadas da sociedade e a isso ninguém escapa. Podemos estar muito tranquilos a assistir à nossa sessão de cinema – exclusiva à imprensa -, depois de um esforço de poucas horas de sono, de forma a garantir a melhor experiência em IMAX, de forma a poder absover o melhor do que nos é mostrado. Mas, mesmo num reduzido público de sete pessoas, haverá sempre alguém – neste caso, dois indíviduos – que acharão que o que se passa no seu telemóvel é mais importante do que o que se passa no ecrã grande presente na sala de cinema. Estão no seu direito de o achar. Não têm é o direito de importunar a experiência de todos os que o rodeiam, podendo muito bem ausentar-se e ir para um sítio só deles, caso a sua capacidade de atenção apresente níveis deficitários. Nada justifica que metade do filme tenha sido visto com luzes – uma mais brilhante do que a outra, mas pouco importa – a importunar a visão periférica de quem queria estar atento a uma única coisa ali dentro. De nada serve termos acesso à melhor imagem e ao melhor som do país se um dos elementos mais importantes para a experiência de cinema não contribui, sendo até preferível ver num streaming pirata no laptop lá de casa. 

Deixando de lado o meu desdém por quem demonstra tamanho desdém pela arte e por quem o rodeia, o filme parece ter nessa fase caído numa série de clichés habituais, até na forma como junta todas as diferentes histórias e personagens. Felizmente, as coisas melhoram no terceiro ato, onde há tensão e cenas bastante bem montadas que concluem este capítulo satisfatoriamente. Mesmo que com um pouco de referências religiosas a mais, que podem fazer revirar os olhos aqui ou ali.

The Nun 2 é um filme bem melhor do que o primeiro. À história é permitido respirar mais, os sustos são melhor temporizados, as atuações mais convincentes e, tecnicamente, nota-se que está em melhores mãos com, por exemplo, um excelente uso das sombras. Ainda assim, não é um filme perfeito e podem esperar alguns clichés do género. Infelizmente, tenho dificuldade em avaliar a obra na sua totalidade, porque a minha sessão – exclusiva à imprensa e numa sala com apenas sete pessoas – foi assombrada por dois elementos convidados que decidiram que o Instagram e o Whatsapp nos seus telemóveis valiam mais do que o respeito pela arte e pelos outros convidados.


The Nun II
The Nun II : A Freira Maldita

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 110 minutos

REALIZAÇÃO: Michael Chaves

ELENCO: Taissa Farmiga; Jonas Bloquet; Storm Reid; Anna Popplewell; Bonnie Aarons

+INFO: IMDb

The Nun II

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