Um Russell Crowe cheio de estilo não é o suficiente em The Pope’s Exorcist

Há uns dias falei de como o novo Dungeon & Dragons me conseguiu convencer apesar de um mau marketing e de um início um pouco atabalhoado. The Pope’s Exorcist também pouco me tinha convencido com os seus materiais promocionais, mas até começou bem. O pior é que foi mesmo só isso. 

O realizador (Julius Avery) coloca-nos na história através de duas perspectivas. A de uma família que se mudou para Espanha depois de herdar um enorme casarão em Espanha e a do padre Gabriel Amorth (Russell Crowe) – que foi um padre que existiu mesmo – que se dedica ao exorcismo e que enfrenta alguma resistência dentro da própria igreja. Este início é interessante. A chegada da família disfuncional a um novo local é dada com alguma mistério e os valores de produção parecem altos. A ação com o padre em Itália está cheia de estilo com ele a mostrar um humor fora do habitual, colocando poderosos em sentido e conduzindo uma Vespa em alta velocidade pelas ruas da cidade. Claro que algo acontece naquela casa, o filho mais novo parece possuído e o padre Amorth é chamado para resolver o assunto. 

Infelizmente, tudo o que se passa até aí é mais interessante do que o que vem depois, quando as coisas deveriam aquecer. Os clichés do género sucedem-se mas o filme tenta combater isso com estilo. É um filme consciente do que é e introduz aqui e ali tiradas humoristicas que, por vezes, resultam, mas nem sempre é o caso. Em determinados momentos, parece mesmo fora do contexto e com pouco sentido. Ainda assim, Russell Crowe como o padre Amorth é a parte mais interessante deste filme. O sotaque italiano do mesmo é um pouco cómico, mas é melhor do que muitos outros que ouvi recentemente (cof…cof…Bill Skarsgård em John Wick 4…cof…cof…), o padre tem uma atitude cool, bebe álcool, continua a conduzir a sua Vespa em Espanha – pelos vistos foi assim que para lá foi de Itália – e até faz piadas sobre futebol! Uma coisa vos posso garantir: neste filme irão-se rir! Não tenho a certeza se em todas as cenas onde o fiz, isso era a verdadeira intenção, mas que me ri, ri-me!

É pena é que tudo o resto não acompanhe. As outras personagens – todas elas! – são de cartão, sem a mais pequena profundidade. Com a exceção da voz e design do menino possuído – que acho que está à altura – nada do resto passa da mediocridade até, vá lá, um interessante confronto final que até poderia fazer parte de um filme da Marvel. Aliás, isto tenta ser qualquer coisa entre O Exorcista (1973), Constantine (2005) e os filmes da MCU, o que podem perceber…dá uma mistura um pouco estranha. E ainda se vislumbram na sua história de suporte muitos elementos de Deliver Us From Evil (2014)…

Em termos técnicos, é um filme que parece bem polido, com uma fotografia (Khalid Mohtaseb) escura bem cuidada, mas onde o realizador demonstra ter pouco para mostrar pela forma desinspirada com que filma as cenas de maior tensão. Aliás, é impressionante como o filme usa e abusa da mesma técnica de ter um plano longo e aberto no início das cenas, aproximando-nos e encurtando o plano antes de cortar. Faz isto inúmeras vezes nas cenas mais lentas e o seu oposto – partindo de um close-up para a abertura de plano – nas cenas mais tensas. Avery deve ter alguma obsessão com o movimento – mesmo quando o mesmo é inútil – porque foram raríssimas as cenas onde esta câmara estabilizou por dois segundos que fossem. 

É difícil recomendar isto, mas acredito que até possam passar um bom tempo. Se a Marvel fizesse um filme de exorcismo, provavelmente seria assim. Tem todos os clichés do género, não tem tensão, tem um humor desajustado e cansa em pouco mais de hora e meia. Ainda assim, não se leva nada a sério e não é todos os dias que podem ver Russel Crowe como padre a exorcisar demónios enquanto conduz uma Vespa e bebe Whisky.


The Pope's Exorcist
O Exorcista do Vaticano

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 103 minutos

REALIZAÇÃO: Julius Avery

ELENCO: Russell Crowe; Daniel Zovatto; Alex Essoe; Franco Nero

+INFO: IMDb

The Pope's Exorcist

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