The Starling não sabe o que quer ser

The Starling é um novo filme da Netflix com Melissa McCarthy no papel principal, um papel mais dramático do que aqueles que nos habituou nos últimos anos. Será que isto resultou?

Neste filme, McCarthy vive Lilly, esposa de Jack (Chris O’Dowd), que perdeu a sua filha subitamente, alterando para sempre a vida do casal. Jack, não aguentando o trauma e diagnosticado com um potencial suicida, decidiu internar-se numa clínica para doentes mentais, enquanto Lilly, cá fora, vai vivendo o luto à sua maneira. O casal parece cada vez mais distante e com poucas esperanças no seu futuro, mas, de repente, um pássaro começa a atormentar a vida de Lilly e vai fazê-la perceber a importância do luto e da força necessária para ultrapassar as adversidades da vida.

Isto parece ridículo? Se vos pareceu à primeira, a mim também. No entanto, não sabendo bem o que esperar disto, esperava ser surpreendido com um filme que me aquecesse de alguma forma o coração, tentando manipular-me emocionalmente. A segunda parte, de facto, aconteceu. O filme tentou manipular-me emocionalmente, mas fê-lo de uma forma tão forçada, tão pouco empenhada e com tão pouco para dizer que falhou. Quanto ao “aquecer o coração”, é um filme sobre luto, por isso tal não deve ser assim tão complicado, certo? Errado. Todos nós já passámos por perdas importantes na nossa vida, acredito. Acredito que quem esteve por detrás da escrita, produção e realização deste filme também tenha passado – considerando que não são crianças nesses papéis -, mas isto é, no mínimo…estranho. Mesmo o pássaro tendo um significado por detrás – que está relacionado com o luto – isto é…estranho.

Não me interpretem mal: o luto é vivido, experienciado e combatido de forma diferente por cada pessoa. O que eu não consigo minimamente entender é o que o filme quis fazer com esse luto. Quis fazer um drama? Quis fazer um filme de família, com momentos absolutamente patéticos, incluindo um pássaro CGI do mais fake que alguma vez irão encontrar? Quis andar pelo meio? Eu, honestamente, ainda estou para descobrir, uma vez que o tom do filme anda por todo o lado, sendo até, por vezes, um pouco desconcertante a falta de direção que parece seguir.

Melissa McCarthy, num papel mais sério, até cumpre com o que – penso eu – era de si esperado. Não sou o maior fã das suas qualidades humorísticas, mas, tal como já tinha mostrado na minissérie Nine Perfect Strangers, é uma atriz competente, capaz de transmitir emoções de forma credível. Não é por aqui que o filme falha e, apesar da grande maioria das mais patéticas situações acontecerem com ela em cena, isso é muito mais culpa de um guião fraco que parece totalmente um tiro ao lado.

Nos aspetos técnicos, além do paupérrimo pássaro, não há muito a referir. A típica música que nos quer tocar dramaticamente está lá a acompanhar cada cena, a realização é normal e a edição também do mais básico que possa existir, apesar do filme contar com uma interessante fotografia, fazendo um bom uso dos espaços abertos e da natureza.

Em suma, terminei The Starling sem saber o que este quer ser, mas com a certeza de que bom não é. É quase incompreensível como um filme que lida com uma temática tão forte e rica como o luto, consegue dar-nos algo tão vazio e, por várias vezes, a roçar o ridículo. Melissa McCarthy convence-me mais como atriz do que como comediante, mas nem isso salva este filme da vulgaridade absoluta.


The Starling
O Estorninho

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 102 minutos

REALIZAÇÃO: Theodore Melfi

ELENCO: Melissa McCarthy; Chris O'Dowd; Kevin Kline

+INFO: IMDb

The Starling

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