The United States VS Billie Holiday não supreende mas apresenta um monstro da atuação chamado Andra Day

Antes demais deixo um aviso, não vejam The United States VS Billie Holiday se estiverem de barriga cheia porque o filme, principalmente se forem tão ou mais sensíveis do que eu, é bem capaz de vos embrulhar o estômago. Andra Day surge monstruosa num filme onde ela e a música são as maiores protagonistas.

Produzido e realizado por Lee Daniels, este drama biográfico retrata a vida da cantora afro-americana Billie Holiday – Andra Day – enquanto ela luta contra a sua dependência com drogas, enfrenta vários relacionamentos tumultuosos e é perseguida pelo FBI por causa da sua música “Strange Fruit”. Mas porque é que o FBI a persegue? A resposta está no facto da letra da sua música retratar os linchamentos de negros no sul dos Estados Unidos. Ambientado entre as décadas de 40 e 60, somos guiados por uma narrativa que nos dá a conhecer a vida da cantora de jazz e nos faz perceber o seu olhar sofrido e a sua personalidade forte.

Tenho uma confissão a fazer… fui com todas as expectativas e mais algumas ver o filme, – não me julguem, afinal de contas, Andra Day recebeu o Globo de Ouro de melhor actriz em drama com a sua interpretação – se elas foram superadas? Não. Mas estiveram à altura. The United States VS Billie Holiday não foi tudo aquilo que estava à espera, mas vale muito a pena, quiçá uma galinha inteira. Foram diversos os momentos em que fiquei com vontade de deixar de assistir o filme, não por ele ser mau, pelo contrário, a representação foi tão real que em várias partes a revolta foi tanta que apeteceu-me partir alguma coisa.

Aquilo até podia estar a retratar a vida de uma mulher negra de uma outra altura, no entanto, senti-o atual no mais ínfimo do meu ser. Para além de mostrar o racismo da altura, – que de outras formas ainda perdura – o machismo ali representado também me deu vários “socos” na barriga, não fosse eu negra e mulher. Billie vivia cercada por homens que só se queriam aproveitar dela; quer fosse pelo seu corpo, dinheiro ou talento. Talvez a única relação saudável que ali vi tenha sido a que ela tinha com os seus cães.  Ok, posso estar a exagerar, até porque a relação de Jimmy Fletcher – interpretado por Trevante Rhodes – e Holiday foi uma lufada de ar fresco no meio de tantos relacionamentos abusivos.

Mas e o que dizer do trabalho do produtor e realizador?

Se, por um lado, a protagonista foi impecável, o enredo pedia mais. Gostaria de ter visto uma abordagem menos rasa ao contexto da altura. Lee Daniels perdeu demasiado tempo a enfatizar as relações tumultuosas e abusivas que Holiday tinha com os homens à sua volta e, por isso, acredito que esta adaptação do livro “Chasing the Scream” de Johann Hari, tenha ficado um pouco aquém do seu potencial.

“Sempre que uma pessoa negra se destaca, ela é pintada de forma negativa” e foi isso que aconteceu com Billie Holiday. Era impensável que uma mulher negra pudesse fazer tanto sucesso e, pior, que fizesse uma sociedade refletir sobre o que se estava a passar através da sua música. Como é que ela ousou? E “Strange Fruit” não foi a única música que me tocou. “The Devil and I Got up to Dance a Slow Dance” – que não foi cantado pela protagonista – tem ecoado na minha mente… a sua letra tão potente e que tão bem representa a história de Billie Holiday foi tocada na altura certa.

Apesar da minha leve desilusão com a visão de Lee Daniels, Andra Day é o maior e grande motivo para verem The United States VS Billie Holiday. Que atriz! Que cantora! Meus amigos, que artista!


The United States vs. Billie Holiday
Estados Unidos vs. Billie Holiday

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 126 minutos

REALIZAÇÃO: Lee Daniels

ELENCO: Andra Day, Trevante Rhodes, Garrett Hedlund

+INFO: IMDb

The United States vs. Billie Holiday

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