Julia Roberts e George Clooney numa comédia romântica em Bali. Kaitlyn Dever e Billie Lourd nos papéis secundários. O género está um pouco batido, mas com estes astros nos papéis principais até tinha alguma curiosidade em saber o que daqui poderia daí resultar. Infelizmente, o que melhor resulta é isso mesmo: o conceito. E por conceito leia-se “Julia Roberts e George Clooney numa comédia romântica”.
Roberts e Clooney são, respetivamente, Georgia e David. Um casal separado há 20 anos que se odeia e que vai agora até ao paraíso – Bali – para tentar evitar que a filha cometa o mesmo erro que ambos cometeram no passado. Primeiro ponto: Clooney e Roberts a odiarem-se nunca convence. Nunca sentimos estar a ver duas pessoas que se odeiam. Parece sempre estarmos a ver duas pessoas a fingir que se odeiam. E isso é um problema durante todo o primeiro ato onde vemos vários episódios em que os mesmos se “picam” um ao outro. Por vezes é engraçado porque quase nos esquecemos que é suposto terem passado 20 anos e são situações que até seriam plausíveis para um casal em crise ou separado há meia dúzia de meses. Mas é uma situação que nunca compramos até porque temos muito pouco background que nos explique o que aconteceu há 20 anos e, principalmente, o que aconteceu desde aí para se odiarem tanto. Será por existir tanta química entre os dois atores que não é plausível este ato?
Ainda assim, percebemos as suas motivações. Embora o filme leve tudo na descontração, como pai também teria alguma dificuldade em aceitar uma filha que quer esquecer toda a sua vida pessoal e profissional e mudar de mundo por alguém que conheceu de férias há dois meses atrás. E esse é basicamente o argumento deste Ticket to Paradise, embora todos saibamos como é que isto vai acabar. O filme tem momentos engraçados. Engraçados o suficiente para sorrirmos. Nunca engraçados o suficiente para nos rirmos às gargalhadas. Tudo parece feito sem muita vontade apostando exclusivamente nas estrelas que juntou sabendo que isso é mais do que suficiente para convencer grande parte do seu público-alvo. Sempre sem cansar muito os seus astros e cansando ainda menos o elenco secundário que é quase criminosamente pouco utilizado.
As lições que o filme procura dar podem ser bem-intencionadas, mas os resultados são mistos. É incrivelmente previsível em tudo o que faz, mas não me conseguiram convencer que algum dos dois casais com que acabamos o filme consiga sobreviver por muito mais do que alguns meses. Porque, afinal, algo que o filme absurdamente ignora, a vida não é feita de férias e de momentos especiais como um casamento ou a mútua descoberta da fase de conhecimento.
Ticket to Paradise pode ajudar a passar uma chuvosa tarde de domingo, mas é do mais genérico que o género tem para oferecer. Não é um filme ofensivamente mau, mas é quase ofensivamente preguiçoso, nunca correndo um risco nem trazendo ideias novas. Se me dissessem que o guião se resume a “pegamos em George Clooney e Julia Roberts e fazemos uma comédia romântica em Bali”, eu acreditaria.