16 anos se passaram desde que Michael Bay decidiu trazer Transformers para o cinema e muita coisa mudou no mundo do cinema desde então. Agora, já depois de seis filmes na série – sendo o melhor aquele que nem se chama Transformers – e de um período marcado pelo típico blockbuster dos filmes da MCU, Steven Caple Jr. ficou com a missão de fazer um reboot na franquia, com novas personagens e uma nova abordagem.
Se há coisa onde este Transformers acerta é na sua dupla principal e isso fica visível desde as primeiras cenas. Anthony Ramos está bem no papel de Noah Diaz e, embora seja difícil esquecermo-nos de como isto começou com Shia LaBeouf, não é por ele que esta nova fase de Transformers não irá funcionar, dando a profundidade emocional necessária. Dá bem conta do recado a nível interpretativo, mesmo que, por vezes, não consiga dar a volta a um desinspirado guião que dele pede as maiores chachadas de discurso que se possa imaginar. Ainda melhor do que Anthony Ramos está a sua co-protagonista, Dominique Fishback, no papel de Elena, que tão bem consegue trabalhar as cenas mais dramáticas quanto as mais cómicas, com aparente pouco esforço. Sempre que ela está em cena, isto é melhor.
No entanto, um dos grandes problemas deste Rise of the Beasts é precisamente que…gostamos mais de estar com os humanos do que os Transformers. Mirage – com voz de Pete Davidson – tem até alguns bons momentos, nomeadamente no que diz respeito ao alívio cómico, mas durante grande parte do tempo nós só queremos é que, por cinco minutos que sejam, nos calem a boca daqueles robots. Eles falam, falam, falam e com isso contam-nos toda uma história da qual nem sequer estamos interessados. Em termos de exposição de diálogo, isto é um dos mais sofríveis guiões dos últimos tempos, parecendo quase que estamos sentados na nossa carteira como alunos e os professores – os robots – nos vão dizendo tudo o que se passa neste e em todos os outros planetas.
Não é só aí que o guião é fraco. Sempre que o filme procura uma abordagem mais emocional, fá-lo de uma modo totalmente lamechas e nada convincente, como se nos quisesse fazer acreditar que Noah e Elena se preocupam assim tanto com máquinas que acabaram de conhecer. Sempre que os nossos protagonistas chegam a um obstáculo que parece significar o fim do mundo, dez segundos bastam para que encontrem uma solução para o problema. Mesmo que a solução que se descobre em poucos segundos – e que passa por apenas rodar pedras que estavam tortas – esteja à vista de todos há vários séculos sem que ninguém disso se tenha apercebido.
Sonoramente – além das vozes altíssimas destes robots – parece que o realizador não gosta mesmo é de silêncio. Isso corre bem quando apresenta uma inspirada banda-sonora de hip-hop dos anos 90, mas corre mal quando há uma composição sonora por detrás de cada fala, parecendo querer fazer de cada momento uma fonte de inspiração para alguém em alguma parte do mundo. No campo visual, além dos belos locais de filmagem no Perú, o filme faz coisas boas quando nos apresenta algumas novidades – como a cena de Mirage na ponte no primeiro ato ou quando nos apresenta possibilidades de cenários futuros – e mesmo a maioria das cenas de combate estão à altura e escala pretendidas. O maior problema é que tudo se repete e repete várias vezes. Quando parece que já tudo acabou e já vimos aquela luta, ela sempre voltará e quem morto parece estar, nunca está. Existe, de momento, em Hollywood, uma aversão a blockbusters curtos, mas se este filme tivesse 90 minutos em vez de quase 130 não se perderia absolutamente nada e retirar-se-ia muita da gordura presente. Ainda para mais quando estamos a falar de uma história que parece uma cópia de…quase todos os outros filmes da saga.
No geral, o filme tem alguns bons apontamentos, mas existe um problema com um filme de Transformers em que os melhores momentos ocorrem quando apenas os humanos estão presentes e aqueles robots se calam de uma vez por todas. A dupla principal merecia um guião minimamente competente, que não parecesse uma cópia de tudo o que já vimos antes, sendo que passamos metade do tempo a levar com diálogo expositivo dos robots que parecem ser os professores e nós os alunos numa sala de aula. Com uma hora de filme estava farto e…ainda faltava uma hora.