Estou sempre pronto e na disposição para ver um divertido filme que misture terror e comédia e que, ainda mais, incorpore maléficos e sangrentos duendes no seu argumento. Então fui com alguma expetativa para Unwelcome, um filme que apenas ainda tinha sido visto em alguns festivais menores e que no Reino Unido recebeu honras de lançamento no cinema.
Na história, um jovem casal, Jamie e Maya, descobre que está à espera do seu primeiro filho e nessa mesma noite vê a sua casa ser invadida de forma violenta por um grupo de marginais. O casal decide então abandonar Londres e muda-se para uma casa herdada por Jamie. Nesta casa vivia a sua tia-avó e mal chegam ao local são recebidos por uma amiga da tia que lhes fala de uma superstição que a tia tinha: todas as noites esta deixava uma pequena oferta – fígado de animal comprado no supermercado – na porta de trás do quintal para que os maléficos duendes nunca lhe fizessem mal. Interessante, certo? Num ano que já nos deu o criativo e original M3gan, parecia que isto poderia ver a ser mais um filme divertido que não se leva demasiado a sério.
Os problemas começam quando nos apercebemos que o filme não só tem problemas na direção que quer tomar, como também no tom que quer apresentar. Focando-se quase na totalidade na relação com uma família local que foi contratada para fazer as reparações na velha casa, perde-se completamente o foco principal do filme que deveriam ser…os duendes. Aí é que está o mel, aí é que se deve atacar. Mas não. Unwelcome não mostra os seus duendes até ao terceiro ato e nada de mal isso tem – Jaws é o maior exemplo do cinema em como mostrar o vilão tarde pode ser benéfico -, mas tem de mal que muito pouco gire à volta destes parcendo estes um apêndice à história principal. E quanto à história principal…horrível! A tal família contratada é a versão estereotipada de “uma família disfucional da aldeia”, com direito a bandidos, mal-criadices, falta de dentes e até distúrbios mentais (sim, a falta de noção chegou a isto). Para completar, há o pai da família que exige que todos os estranho o tratem por “Daddy”!
Vivendo neste pesadelo de conflito entre as duas famílias, o realizador, Jon Wright, até parece esquecer-se que tem duendes à sua disposição. O casal onde o filme se centra tem uma dinâmica única, mas até aí apenas uma das partes funciona. Hannah John-Kamen demonstra ser uma boa atriz e a única coisa que se aproveita deste filme, já Douglas Booth tem uma atuação inexplicavelmente má como seu marido, reagindo de forma exagerada e forçada a todos os eventos. Mas e os duendes? Bem, os duendes aparecem no terceiro ato, depois, claro, de serem invocados e com uma boa dose de gore à mistura…Ámen! Algo bom venha a nós!
Mas isto, no mínimo, diverte, certo? Não. Aborrece! E muito. Um filme que deveria optar por uma toada mais cómica, nas vezes em que opta pelo humor é um humor seco e estranho, levando-se quase sempre demasiado a sério. As criaturas são bem feitas e é uma pena que não sejam aproveitadas para mais do que umas quantas mortes seguidas e para emitirem uns ruídos profundamente irritantes. Para completar o ramalhete, há um final que tenta ser tão diferente que se torna numa autêntica paródia em que até a única boa atriz não consegue evitar cair na esparrela do filme, tendo também ela uma cena ridícula.
Em suma, um filme mau. Mau como eu pensava que o terror – principalmente, o lançado em cinema – já não tinha coragem de o ser. O que deveria ser um divertido filme com duendes maléficos, não passa de um aborrecimento cheio de mau diálogo, um péssimo guião e ainda piores personagens.