Wild Indian (ou o remorso do trauma sociopático)

Intensidade e introspecção justapostas e condensadas em 1h30 de filme. Conta, peso, medida, estética, som, envolvimento, beleza na crueza, prestações inolvidáveis e enredo de dose e meia.

Michael Greyeyes interpreta a versão adulta de Makwa, um nativo americano adolescente (protagonizado por Phoenix Wilson) nos anos 80 onde, no primeiro acto, é mostrado com cadência e veemência o status socioeconómico desta minoria nestes tempos no Wiscounsin, como isso lhe afecta diretamente e o momento que, conjuntamente vivido com o seu primo e melhor amigo Tedd-o (representado por Julian Gopal jovem e Chaske Spencer adulto), a vida de ambos é para sempre afectada na génese de cada um de formas bastante diferentes mas paralelamente danosas.

Os danos feitos a ambos são demonstrados volvida uma vida de 35 anos depois em que os diferentes actos de contrição culminam numa sucessão de acontecimentos com olhar profundamente refrescante e corajoso contrário ao que o cinema americano tem vindo a habituar-me.

Lyle Mitchell Corbine Jr. é quem realiza e escreve esta lufada de ar fresco com fumos de cachimbo e sabor a peyote que me levou a estar pregado no sofá sempre a tentar antecipar o que iria acontecer, apenas para falhar inesperada e miseravelmente e com a vontade de saber mais e permitir-me a analisar o que vou vendo com um encosto de cabeça de ritmo aconchegante e cobertor de pré-Inverno de reflexão e análise conforme o realizador pretendeu.

Wild Indian é muito bem filmado. O serviço que a imagem fez à história, assessorado do som e interpretações do elenco riquíssimo em talento apesar de praticamente desconhecido, é de finíssimo recorte e astúcia. Momentos de tensão, momentos de profundidade, momentos de enternecimento e momentos de empatia foram mesclados de forma orgânica, com transições fluídas e sempre a serviço do enredo.

Esta crítica não tem muito mais ponta por onde pegar. Este filme é aquele que mais recomendo destes últimos três a que confiro 4 estrelas de forma tranquila e na segurança de que tal obra sólida, curta, consistente e rica não irá desapontar quem quer que seja, de pelo menos fazer sentir algo.

É possível procurar diferentes perspectivas na abordagem a este filme e ficar satisfeito. Quem se encontrar na posição de encaixar tudo o que este filme tem para oferecer mais rapidamente poderá mandar-me à fava por apenas ter dado a classificação que dei. É de se ver. É de se ver o quanto antes e é de seguir com a vida ou então ajoelhar-se em prantos à beira da praia deserta.


Wild Indian
Wild Indian

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 90 min.

REALIZAÇÃO: Lyle Mitchell Jr.

ELENCO: Michael Greyeyes, Chaske Spencer, Kate Bosworth

+INFO: IMDb

Wild Indian

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