Em primeiro lugar, devo começar por dizer «Bravo! Bravíssimo, Amy Adams!». Que interpretação esplendorosa! Não tinha grandes expectativas em relação ao filme, – ainda bem! – e fui surpreendida, da melhor forma. O drama que é protagonizado por Amy Adams, Fred Hechinger, Gary Oldman e Julianne Moore, tem como realizador Joe Wright. Adaptado do livro com o mesmo nome de A. J. Finn, The Woman in the Window estreou em maio deste ano e pode ser visto na Netflix.
Não sou a maior fã de filmes de terror. Minto, não sou fã sequer. E, sinceramente, também não gosto muito de thrillers por isso, quando vi o trailer do filme fiquei receosa, confesso. Eu sei que para muitos posso estar a parecer ridícula, até porque isto não é a coisa mais assustadora do mundo, mas o facto de ter muitas cenas sombrias incomodava-me, bastante – que parvoíce! Como é que poderia ser de outra forma se o drama fala sobre um assunto tão obscuro, sombrio e solitário? The Woman in the Window conta a história de Anna – Amy Adams -, uma mulher com agorafobia e que, por isso, não consegue sair da sua enorme casa onde vive com o seu gato e um inquilino na cave. Os dias vão passando e Anna, que mistura os medicamentos com a bebida, vai parecendo cada vez mais transtornada e com menos capacidade para conseguir sair de casa. Os seus dias são passados a beber, a falar com o marido – de quem está separada – e a coscuvilhar a vida dos seus vizinhos. E é através dessa coscuvilhice que a história começa a ficar mais interessante.
Depois da chegada dos seus novos vizinhos, os Russells, Anna recebe a visita do filho do casal, Ethan Russell – Fred Hechinger – e, mais tarde, da sua mãe a quem ela chama de Jane – Julianne Moore. Por ser psicóloga infantil e por perceber que Ethan é um adolescente com problemas, ao que parece causados por Alistair Russel – Gary Oldman – seu pai, a protagonista fica afeiçoada ao miúdo e preocupada com aquilo que vê da sua janela. Até que chega um dia em que ela é testemunha de algo tenebroso que envolve a mãe de Ethan e a trama leva-nos para um jogo psicológico onde percebemos que nem tudo é o que parece. Será que Anna ficou completamente maluca? Será tudo aquilo real? O que é que aconteceu com Jane? Quem é, de facto, Alistair Russell?
Mesmo que pelo seu enredo possa ser comparado a A Janela Indiscreta de Hitchcock, afinal temos uma pessoa presa em casa, à janela, com uma camara fotográfica e acontece um crime, o filme trespassa essa comparação. Com várias reviravoltas e uma interpretação brilhante de Adams, – a cena em que é revelado o seu segredo, a cena em que ela grava o vídeo, na verdade qualquer cena em que ela aparece – The Woman in the Window conta com um bom plot, um casting perfeito, – até Julianne Moore, que em certas partes me parecia desalinhada – uma trilha sonora que deixa o filme ainda mais intrigante e uma ótima fotografia. Joe Wright é um mestre em apresentar-nos protagonistas introspetivos, vulneráveis e cujo interior vamos conhecendo como quem descasca uma cebola e aqui não poderia ser diferente. Essa característica está tão em evidência que a casa acaba por ser mais do que um cenário: a casa é quase como uma extensão da protagonista, tão sombria e deteriorada quanto a sua alma.
Apesar de me ter feito questionar as danças esquisitas que faço pela manhã no meio do meu quarto – não vá uma Anna estar à espreita – The Woman in the Window é muito mais do que aquilo que eu estava à espera! A tensão, o pânico, o desespero é tão palpável que, por segundos, também me vi com a respiração suspensa. Nada ali foi feito por acaso e, no final, tudo faz sentido.
O filme, que na minha cabeça passou a chamar-se “a fofoqueira do bairro”, é uma excelente aposta para quem gosta de suspenses psicológicos e até para quem, tal como eu, não é grande fã de sentir os batimentos cardíacos um pouco mais acelerados.