Worth define-se pelo enredo de uma face do atentado às Torres Gémeas que convenientemente pouco ou nada foi abordada mediaticamente: os entretantos burocráticos e incómodos entre os que ficaram para varrer o pó do cimento desfeito nas ruas e nas suas vidas. Satisfez e segue-se porquê.
Michael Keaton mostra novamente que é muito mais que o primeiro grande Batman ou que deve o seu ressurgimento indivisivelmente a Iñarritu. Mostra que consegue atrair naturalmente o enfoque de qualquer ambiente de guião a que se proponha. Mostra que é completo, experiente e sabe medir a intensidade da sua luz quando é preciso servir-se a si ou a história.
Stanley Tucci é um senhor autêntico da representação e só peca por escasso no tempo de ecrã. A personagem dele é idealizada como um dispositivo de consciência inteligentemente usada para desempenar tantas subcamadas deste guião quantas as que entendi como suficientes e bem camuflado o suficiente para que eu engolisse sem grande dificuldade o risco tomado de tal artifício.
Posto isto, o guião que tão bem ia com ritmo propositadamente penoso e melindrante para espetar de forma contundente e dolorosa cada faquinha emocional, de forma a que eu (como politólogo amador, teórico de hobby e questionador de verdades imediatistas) me envolvesse por toda a esfera do 11 de Setembro até que entendesse racionalmente que a história tinha a ver com isso mas não era necessariamente sobre isso, é o guião que liga o nitro de um terceiro acto de Velocidade Furiosa e procura terminar de queimar todos os fios do novelo que desemaranhou sem necessidade de forma atabalhoada para dar uma conclusão à trama. Interessante que a história que conta também teve esse tipo de cadência na sua resolução, portanto esta aplicação do guião foi mais um travo de genialidade ou incompetência desculpável? Qualquer das hipóteses servirá para condenar ou enaltecer Worth ao gosto de cada um.
Nova Iorque da época está bem filmada, o grão da cinematografia que ensombra a imagem é aquele toque sensorial ao drama que é bem-vindo, a banda-sonora assente em música clássica com temática proposital também merece o meu piscar-de-olho e todo o elenco uniformemente me fez arrepiar a espaços pela autenticidade de quem interpretou aquelas pessoas comuns que falavam com os doutores.
Worth tem um terço e meio inicial que apela à lágrima, mas que para malta mais exigente que não cai facilmente nessa ferramenta mais superficial, consegue cativar e compenetrar por todo o resto do filme até ao final.
São quase duas horas de rodagem que a meu ver poderiam ter repartido melhor o crescimento e resolução do protagonista em Michael Keaton mas que de longe este consegue sair bem da edição e direcionamento com que resultou todo o filme.
Worth sai da minha memória para o texto com orgulhosas 3,5 estrelas.