@Zola ou a “comédia” que me torturou do início ao fim.

Janicza Bravo conseguiu…. Conseguiu ser a realizadora e coargumentista do filme que mais mexeu comigo este ano… da pior forma possível, claro. Este foi, sem sombra de dúvidas, um dos piores filmes que já vi. Cada minuto foi uma tortura e foram poucos os momentos em que não quis arrancar os olhos ou não fiquei enojada com as situações que ia vendo. E se esse era o objetivo de @Zola, parabéns, foi alcançado.

Vamos por partes… o filme é baseado numa thread do Twitter escrita por A’Ziah King que viralizou em 2015. Na thread, A’ziah, a Zola da vida real, conta a saga cativante de como ela conheceu uma rapariga branca e juntas foram parar a Florida para fazer um trabalho de strip que, mais tarde, se revelou ser muito mais do que isso. A premissa era interessante tanto mais que foi transportado para o grande ecrã; o elenco bem escolhido, Taylor Paige – como Zola – Riley Keough, – como Stefani – Colman Domingo – como X – e Nicholas Braun – como Derrek –, todos desempenharam na perfeição o seu papel e a entrega foi real. Então o que é que me fez detestar tanto o filme de Janicza Bravo?

O misto de misoginia com apropriação cultural e cenas completamente aleatórias e, no meu ponto de vista, totalmente desnecessárias foram demais para a minha pessoa e são a resposta a essa pergunta. Ok, Bravo parece direcionar com a intenção clara de nos deixar incomodados. Estamos a falar sobre exploração sexual, traição, relacionamentos abusivos, é óbvio que esses temas nos vão deixar incomodados. É intencional, ela quer mesmo colocar o dedo na ferida e fazer com que os nossos corpos se encolham. Toda a estética do filme por mais convidativa que aparente ser acaba também por ser uma armadilha – não deveríamos estar ali a observar. Em quase todos os momentos senti que estava a invadir a privacidade de alguém e esse sentimento de intromissão nunca passou, juntamente com o meu ódio toda a vez que um telemóvel tocava. Eu percebo, isto tem por base um tweet então era óbvio que as redes sociais iam ter um papel importante, mas nada disso impediu que a minha pele ficasse arrepiada de ódio.

O filme tem na sua fórmula um tipo de humor ácido que, por norma, costumo gostar, tanto mais que Promising Young Woman é um dos meus filmes preferidos de sempre, no entanto, aqui isso não aconteceu. Nada ali é feito ao acaso, mas mais do que me deixar incomodada e não me fazer rir ou sorrir em nenhum momento, esta tentativa de alguma coisa que até agora não percebi bem o que é deixou-me perplexa pelos piores motivos. Visualizar este filme foi tão prazeroso quanto colocar limão nos olhos.

Mas…

… nem tudo foi unicamente horrível. Taylor Paige, doou-se de corpo e alma e o resultado foi bastante nítido. As suas expressões ao longo do filme, de certa forma, representaram as minhas expressões de nojo, indignação, raiva e incredibilidade, «isto está mesmo a acontecer?». Sim Zola, está, e vai piorar. Riley Keough, que deu vida a rapariga branca que “seduz” Zola, é, de longe, a personagem que mais me fez contorcer ao longo do filme. A voz, a forma como mastigava a pastilha, a apropriação cultural. Ela vertia desrespeito e dissimulação. O que, tento em conta a proposta do filme, acaba por ser um grande elogio porque o objetivo era mesmo esse.

@Zola cumpre a sua proposta – incomodar – mas não diverte.

 


@Zola
Zola

ANO: 2020

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 1h 26min

REALIZAÇÃO: Janicza Bravo

ELENCO: Taylor Paige, Riley Keough, Nicholas Braun e Colman Domingo

+INFO: IMDb

@Zola

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