O título desta crítica é mais inteligente do que o filme Heart of Stone. Lançado em 2023 é uma coprodução entre a Netflix e a SkyDance(mesma produtora de Missão Impossível) . O filme conta a história de Rachel Stone (Gal Gadot) é a agente da The Charter, uma agência internacional sombria que precisa proteger uma inteligência artificial chamada The Heart. Na sua missão, ela precisa se infiltrar na equipa do Serviço de Inteligência Secreta do Reino Unido (MI6) enquanto tenta impedir que um hacker apanhe a tecnologia. Com um orçamento 95 milhões de euros, podemos perceber para onde foi o dinheiro, bem podemos ver para onde não foi. Não foi para o guião, para os efeitos visuais, para a composição musical, para edição, provavelmente foi para a Netflix para curar a falta de assinantes, pois para mim é a única explicação possível para um filme tão caro não ser bom em nenhum aspeto.
O filme em si é pouco original, em todos os requisitos, tudo parece genérico e inspirado em 007, Missão Impossível e ligeiramente em Kingsman. Parece que tudo aqui vem porque, sim, nada em Heart of Stone parece original ou se quer motivado, até as poucas ideias originais são descartadas em tempo recorde. As atuações na sua maioria são medíocres, mas Gal Gadot como na maioria traz o seu carisma que salva um pouco o filme. Mas nada parece contribuir para que este filme se safe do void da não originalidade.
Heart of Stone é provavelmente o filme mais ridículo que eu já vi em 2023, o que é o resultado do tom do filme. Quando um filme se leva demasiado a sério, e tudo que é de menor é levado a sério, tudo fica ridículo. O que me dá impressão é que tudo é neste filme contribui para algo ridículo. Um dos fatores que me levam a chegar a esta conclusão são as atuações, todos os atores ficam sérios com caras sérias, a dizer coisas sérias, ao fim do quê 30 minutos tu já não aguentas, todos passam a mensagem de que está a acontecer algo importante quando muitas das vezes não se passa nada comparado ao que vemos no resto do filme. Se tudo é especial nada é especial, este guião quer sempre estar em grande, ele tenta em todos os momentos criar um sentimento de urgência até quando não é preciso, o filme tenta criar no espetador um vilão superpoderoso que não tem quaisquer remorsos no que faz e nós só vemos isso nos últimos minutos. Outro fator que contribui para este tom sério do filme, é a música, sim, eu disse música e não composição musical, pois este filme só tem uma música e ele vai usá-la o máximo que conseguir, parece que Hollywood gosta de ter um sonzinho de no máximo de 20 segundos, e de o usar à menor coisa, um exemplo onde isto é bem aplicado e no “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” com o som quase já icónico do Homem Aranha 99, neste filme esta música é ridícula e torna tudo repetitivo e igual.
O guião de Greg Rucka e Alisson Schroeder não cria de maneira alguma, pessoas credíveis e que nós espetadores acreditemos que sejam reais, tudo o que é vivo neste filme parece e soa falso. A personagem interpretada por Gal Gadot, não nos parece real, muitas das vezes a mesma parece sobre-humana, ela aguenta explosões, aguenta ser atingida com balas em sítios que seria morte na certa e outros que sofreram no mesmo sítio morrem instantaneamente. Numa cena em específico, ela supera a inteligência da suposta IA mais inteligente de todos os tempos. Uma personagem assim tão forte faz com que o espetador não consiga se conectar aos valores defendidos e às ações executadas. E não é só a Agente Stone que parece falsa, os capangas e vilões do filme não soam reais, mas enquanto Stone parece inteligente demais os capangas parecem burros. Em perseguição em campo aberto, Stone que se encontra desarmada é perseguido por capangas armados que só deus sabe o porquê, não disparam e quando o fazem só disparam um tiro como se aquilo fosse uma sniper. As perseguições que deveriam ser dramáticas resolvem-se num piscar de olhos graças à genialidade de Stone e à burrice dos capangas.
Heart of Stone carrega o que para mim é um dos piores vilões que eu já vi que é motivado no que é para mim o maior cliché de Macguffin, uma IA com inteligência suprema. O nosso vilão Parker mostra uma motivação pouco lógica para ser mau, uma péssima motivação e pouco ameaçador na maioria dos momentos, nós só vemos a verdadeira vilania a partir do 3ºato. A atuação de Jamie Dornan está na corda bamba entre fraca e medíocre o que parece que já é normal vendo os outros filmes que o mesmo já interpretou, nós só temos um único flashback para nos mostrar porque ele é mau, é isso, ele podia ser o personagem mais mal desenvolvido se o CORAÇÃO não existisse. O CORAÇÃO é uma inteligência artificial que é tão poderosa que controla qualquer dispositivo, computadores, elevadores, cofres, ventoinhas, sim, ventoinhas. Este personagem é o que Parker procura e tenta capturar durante o filme inteiro. Com uma IA tão poderosa isto cria imensas perguntas na minha cabeça, como, e se, alguém ganancioso decide roubar todos os bancos do mundo e não deixar rastro, mas claro ninguém faz isso, pois toda a gente é bonzinho tal como na vida real, né?
Eu sei que Hollywood anda com dificuldades quando se trata de efeitos visuais, mas isto já é demais. Não se aproveita 90% das cenas com efeitos neste filme, tudo parece falso, as cenas de moto com Gal Gadot consegue-se ver o Chroma Key, é inaceitável um filme 95 milhões de dólares ter efeitos tão maus. Nas explosões tu consegues observar com clareza o fundo verde, o filme ainda tenta esconder com cenários escuros para que a introdução dos efeitos fique menos evidente, mas na maioria não funciona, ficamos apenas com cenas no escuro com efeitos que tentam ser impercetíveis, mas não são, e uma estética que não parece ser proposital, mas apenas jogada. A fotografia do filme sofre devido à condições dos efeitos, mas eu sinto que quando ela tem oportunidade de brilhar ela decide fazer o básico, tal como tudo neste filme.
Um ponto positivo de Heart of Stone é a maneira como mostra os espiões, até ao minuto 40 os espiões são demonstrados como pessoas e não aquelas pessoas de fato sempre com cara de maus, e na minha opnião o filme acertou ao dar uma maior humanidade a pessoas que são assassinos legais. Portugal faz uma pequena mas significante aparição para a história, mais precisamente Lisboa. É em Lisboa que a história realmente avança, e enquanto português fico orgulhoso por ter cenas em Portugal, também fico triste por saber que um filme tão mau como este tem uma costela portuguesa, mas a representação de Portugal não é má e não desrespeita a nossa cultura, uma das cenas em Lisboa até contem um lindo plano de drone do Terreiro do Paço.
Skydance já afirmou que quer fazer disto uma franquia, ou seja, não vai ser a primeira nem última vez que vamos ver a Agente Stone em ação, eu só espero que os filmes que sucedem este sejam melhores e mais bem escritos. Heart of Stone é um filme fraco em originalidade, fraco em qualidade, fraco em desenvolvimento de personagens, fraco em composição musical, fraco em edição, fraco em lógica e fraco em cenas de ação. Ainda assim, a luz ao fundo do túnel é o carisma das atuações.