Óscares 2022: CODA vence Filme do Ano numa cerimónia que não quis ser cinema

Foi uma estranha cerimónia e já o estava a ser antes da célebre chapada de Will Smith.

É a melhor forma de descrever os Óscares 2022, naquela que deve ser a noite de maior celebração do cinema, mas que ano após ano insiste em quase pedir desculpas por ser o que é. Assim o foi ontem, com uma série de piadas gastas acerca de “filmes que ninguém vê” e sobrevalorizando filmes populares com pouco conteúdo. A Academia tenta a todo o custo agradar a jovens adolescentes, vendendo a sua própria alma e fazendo auto-paródia a cada esquina.

Falar de cinema é o que mais interessa e aí a Academia foi do mais previsível que poderia ter sido na atribuição dos prémios. Das 20 categorias de longas, tivemos os 20 vencedores que tinham o favoritismo nas casas de apostas durante os dias anteriores à cerimónia. CODA acabou mesmo por levar o principal prémio da noite, confirmando o momentum e a reviravolta triunfante que tinha iniciado nos SAG – o Sindicato dos Atores – e comprovado com carimbo de quase-certeza nos PGA – o Sindicato dos Produtores – há uma semana. Em três nomeações, o filme levou três galardões (incluindo Troy Kotsur como ator secundário – com o melhor discurso da noite – e argumento adaptado), um estranho cenário que contrasta com o The Power of the Dog – até há 3 semanas o grande favorito – que trazia 12 nomeações e apenas se contentou com o prémio de realização para Jane Campion.

West Side Story teve que se contentar apenas com o galardão de atriz secundária para Ariana DeBose, enquanto o prémio de atriz principal foi para Jessica Chastain na sua 3ª nomeação, por The Eyes of Tammy Faye. No entanto, o momento que irá marcar estes Óscares é a “chapada de Will Smith”, que não se conteve e subiu ao palco para esbofetear Chris Rock, depois do comediante ter feito uma piada sobre a esposa de Will – Jada Pinkett Smith. Chris Rock brincou com a falta de cabelo da atriz, fazendo uma menção a G.I. Jane e Will não gostou pois a falta de cabelo da esposa se deve a uma condição médica, mas não se pense que Will Smith foi expulso do recinto. Isto são os EUA e “the show must go on”. Então poucos minutos depois, Will Smith subiria ao palco para levantar o Óscar de melhor ator por King Richard, dando-nos um discurso profundamente confuso e desequilibrado. Episódio triste pois a sua carreira e a sua prestação merecia um momento mais digno na noite de ontem.

No geral, a Academia perdeu uma excelente oportunidade de celebrar o que de melhor há no cinema, preferindo até esconder as suas preferências mais artísticas, focando todo o espetáculo na vertente comercial. Será este o caminho da festa do cinema? Uma vez que esta cerimónia ainda foi mais longa do que as últimas, esperemos que para o ano possamos pelo menos voltar a ver todos os vencedores a receber os seus prémios ao vivo. Num ano em que um filme como Dune domina no número de galardões – seis – e todos eles técnicos, é incrível como a Academia não aproveitou o momento para mostrar-nos a grandeza de todas essas componentes, explicando a quem está em casa porque bom cinema vai muito além de blockbusters com pouco conteúdo e muito fan service.

Confiram abaixo todos os vencedores:

Melhor Filme – CODA

Melhor Realização – Jane Campion, The Power of the Dog

Melhor Atriz – Jessica Chastain, The Eyes of Tammy Faye

Melhor Ator – Will Smith, King Richard

Melhor Atriz Secundária – Ariana DeBose, West Side Story

Melhor Ator Secundário – Troy Kotsur, CODA

Melhor Argumento Original – Belfast

Melhor Argumento Adaptado – CODA

Melhor Edição – Dune

Melhor Filme Internacional – Drive My Car

Melhor Filme de Animação – Encanto

Melhor Documentário – Summer of Soul

Melhor Fotografia – Dune

Melhor Design de Produção – Dune

Melhor Guarda-Roupa – Cruella

Melhor Caracterização – The Eyes of Tammy Faye

Melhores Efeitos Especiais – Dune

Melhor Som – Dune

Melhor Banda Sonora – Dune

Melhor Canção Original – No Time To Die, No Time To Die (Billie Eilish)

Melhor Curta Live Action – The Long Goodbye

Melhor Curta Animação – The Windshield Wiper

Melhor Curta Documentário – The Queen of Basketball

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